sexta-feira, 16 de março de 2012

esquecimento

aos poucos esqueço este hábito triste de gostar-te
de querer-te sempre, demais e a toda hora
- névoa silente e delicada
morre em mim, pois
que é tarde.

Amálgama

Mas sou também este sangue derramado
esta mistura de desencanto e de lágrimas,
de tormentas que cessaram
mas que me deixaram suas marcas.

Sou este silêncio incômodo
implacável
e este olhar perdido,
indefinido e quase triste,
escondendo-se no horizonte.

E sou estas palavras rotas
alquebradas
áridas e indecifráveis como um soluço surdo
desperdiçadas no labirinto cinza destas ruas despovoadas.

Este carinho sério, sem forma,
de gestos rudes e ásperos,
nasce da matéria pesada que em meu corpo
lenta e obstinadamente se plasmou.

Tropecei nos caminhos do mundo,
banhei-me nas paragens de erro e desejo,
fartei-me na realidade inevitável
das saudades e alegrias,
dos amores e desesperos.

Neguei os planos que em mim sonharam tantos
- e quanto!
Restei assim,
uma combinação desajeitada de cicatrizes e sorrisos.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Poesia (ou Palavras a uma Amiga)

Poesia é sofrer as palavras
em imagens e sons e sentimentos
despedaçando os seus sentidos e montando-os
um a um
em formas antes não desconfiadas.

É brincar em meio às estrelas da noite
dançar ao seu redor
sentir a vida quente que pulsam
e que se esvai.

É saborear cada vibração,
cada aspereza calcária e silenciosa da matéria,
e desta realidade tátil lançar-se ao impossível.

É absorver a sinfonia pungente do universo
brotada, talvez, das rachaduras do teto
talvez, dos poros do corpo (o lamento da alma).

Poesia,
um tecido de sonhos e náusea
a brincar
girar de acima abaixo
girar de revés
girar, simplesmente.

Em meio a conceitos
encontrar palavras
e delas procurar as mais simples
aquelas quase quietas
as únicas a saber a dor que carrega cada instante feliz.